"Que extraordinário exercício de alienação é a literatura! Mergulhados num livro a realidade que nos cerca deixa de existir. Estamos inteiramente no mundo do pensamento. Se Marx estava certo ao afirmar que “o homem é o mundo do homem” então, na literatura, tornamo-nos criaturas dos muitos mundos da fantasia. Tornamo-nos personagens de uma estória inventada, “atores” de teatro. “Não é incrível que um ator, por uma simples ficção, um sonho apaixonado, amolde tanto sua alma à imaginação, que todo se lhe transfigure o semblante, por completo o rosto lhe empalideça, lágrimas vertam dos seus olho, suas palavras tremam e, inteiro seu organismo se acomode à essa mera ficção? ( Shakespeare, Hamlet, ato 2º., cena II). Os atores são seres alienados da realidade por estarem vivendo totalmente no mundo da ficção. É nisso que se encontra “a virtude paradoxal da leitura, que consiste em fazer-nos abstrair do mundo para lhe encontrarmos um sentido.” ( Daniel Pennac, Como um romance, ASA, Portugal, p. 17 ). Todo artista é um fingidor. Todo leitor tem de ser um fingidor. Fingir, brincar de fazer de contas, tratar as coisas que são como se não fossem e as coisas que não são como se fossem! É dessa loucura que surgem as mais belas criações da arte e da ciência. Por isso eu me daria por feliz se a educação fizesse apenas isso: introduzir os alunos no mundo mágico do pensamento tal como ele acontece na literatura.. Quem experimentou a magia do pensamentouma única vez não se esquece jamais... "
Texto capturado do site, em 13/12/06